*Maria João Pires, Christopher Warren-Green e OSBA

 

Ricardo Castro e a Orquestra Sinfônica da Bahia – Relatório de Gestão 2007 a 2011

 

Entre janeiro de 2007 e janeiro de 2011, Ricardo Castro aceitou o convite do Governo Jaques Wagner para ser contratado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia como consultor na área da música de concerto para todo o estado, desempenhando também para tal o papel de Gestor Artístico da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), que naquele momento funcionava ainda no modelo de gestão estatal. Este relatório é um resumo das principais ações que o maestro implementou durante seu mandato na OSBA. Relatórios trimestrais foram entregues à Secretaria de Cultura durante os quatro anos de gestão, com todas as ações em detalhes.

INÍCIO DA GESTÃO

Marcando o início de seu mandato como Gestor Artístico, em 6 de janeiro de 2007 aconteceu no Teatro Castro Alves, em Salvador, o seminário "OSBA EM BUSCA DE NOVOS CAMINHOS", a primeira ação pública da gestão de Ricardo Castro. Os convidados para o seminário foram Claudia Toni, Diretora Executiva da OSESP, Bolivia Botome, das Relações Internacionais do "El Sistema" da Venezuela, e Alex Klein, maestro, oboísta e diretor do FEMUSC.

Durante o seminário, o plano de ação da gestão foi apresentado à orquestra e seus membros, com o objetivo de proporcionar alinhamento de propósito, estratégias e colaboração coletiva para os próximos passos da OSBA. Para promover um intercâmbio cultural e expandir as perspectivas, ocorreram momentos de diálogos com especialistas convidados para o evento. Foram discutidos vários tópicos relacionados ao funcionamento de uma orquestra sinfônica profissional, incluindo a proposta de publicização para o setor, bem como a implantação do "El Sistema" na Bahia, hoje conhecido como NEOJIBA.

Durante os 100 primeiros dias da gestão, Ricardo Castro implantou:

• Criação do cargo de Assessoria Técnica a fim de fortalecer a administração;
• Criação da Comissão Artística a fim aproximar a orquestra da gestão;
• Criação da primeira logomarca da OSBA;
• Estabelecimento da regra de confecção de programa impresso com textos sobre os intérpretes e as obras para cada concerto da orquestra;
• Solicitação a todos os músicos a realização do exame geral de audiometria;
• Revitalização das cameratas;
• Realização de audições para músicos interessados em tocar como solistas;
• Realização da entrega da programação com planos de ensaio detalhados com antecedência dentro moldes das melhores orquestras profissionais.

PRINCIPAIS AÇÕES REALIZADAS

Gestão participativa e democrática:

Durante os 4 anos de gestão, foram realizadas nove Reuniões Gerais entre a Gestão Artística e o corpo artístico e administrativo da OSBA. Essas reuniões ofereceram a oportunidade inédita de diálogo aberto e democrático entre os membros da Orquestra.

Interiorização da OSBA:
 

Em conformidade com a política de interiorização da SECULT, foram realizados concertos em sete cidades no Estado da Bahia, entre elas Santo Amaro, Valença, Jequié, Vitória da Conquista, Ilhéus, Itabuna e Camaçari. A música de alta qualidade apresentada nos concertos teve excelente aceitação do público local, com lotação completa dos teatros, igrejas e praças públicas.

OSBA itinerante:

Com um total de 39 apresentações, a OSBA itinerante ocupou locais como o Museu de Arte Sacra, a Catedral Basílica, Órfãos de São Joaquim, o Museu do Carmo, Conceição da Praia, Igreja de São Francisco, Santa Teresa, Santa Clara do Desterro, a Reitoria da UFBA, Pelourinho, além das cidades de Camaçari, Santo Amaro, Valença, Jequié, Vitória da Conquista, Itabuna e Ilhéus.

Concursos pelo regime REDA - Contratação de Músicos:

Mesmo enfrentando grandes dificuldades administrativas, foram realizados cinco concursos através do regime do REDA. Nesses concursos, realizados em outubro e dezembro de 2007, fevereiro e agosto de 2008 e junho de 2010, foram contratados 19 músicos, dos quais 10 permaneceram na orquestra até 2011.

 

Revitalização das cameratas da OSBA:

O programa "Cameratas da OSBA" foi revitalizado e passou a ter um gestor dedicado. Isso resultou em um desempenho mais eficiente do programa, que realizou concertos em diversos espaços públicos da cidade e arredores.

Infraestrutura e Equipamentos:

Foram feitos investimentos significativos na infraestrutura para melhorar as condições de trabalho da Orquestra. Destaque para a requalificação da sala de ensaio, aguardada há muitos anos. Recursos foram investidos na aquisição de materiais e equipamentos para a Orquestra, bem como na manutenção das instalações.

Aquisições:

Além das aquisições, foram realizadas diversas reformas e manutenções, garantindo o perfeito andamento das atividades da orquestra dentro das instalações.

Manutenções e reformas:

Intercâmbio artístico e cultural:

As temporadas de concertos da OSBA aconteceram anualmente, entre os meses de março a dezembro. Entre 2007 e 2010 a OSBA realizou quatro temporadas, proporcionando o alcance dos três pilares que nortearam as ações: difusão, capacitação e intercâmbio. Durante o período, a OSBA foi destaque como orquestra com uma das temporadas de concertos mais importantes do país. As apresentações contaram com a presença de regentes e solistas de renome internacional, nomes como: Maria João Pires, Sol Gabetta, Anton Wit, Alex Klein, Christopher Warren-Green, Antônio Meneses, Dominique Merlet, Cristina Ortiz, Fábio Mechetti, Jean Louis Steuermann, Miriam Fried, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, John Neschling, Emil Tabakov e o próprio Ricardo Castro, são alguns exemplos de artistas que participaram das quatro temporadas de concertos. Vale destacar que a OSBA, a partir de 2007, começou a participar todos os anos da Série TCA. Em termos quantitativos e qualitativos essas temporadas da OSBA foram inéditas até então na história da Música de Concerto na Bahia

Com a apresentação de grandes monumentos do repertório nacional e internacional, além da presença de artistas consagrados e da nova geração do Brasil e de todos os continentes (América latina e do Norte, africano, europeu e asiático), a OSBA apresentou um panorama mundial da produção musical de todos os tempos, ao mesmo tempo em que promoveu um intenso intercâmbio artístico e cultural e possibilitou aos músicos da Orquestra e da cidade qualificar-se com essa troca de alto nível artístico.

Captação de recursos:

Durante o planejamento da gestão e mesmo que ainda sob gestão estatal, Ricardo Castro visou trazer a OSBA para o cenário de captação de recursos via leis de incentivo. A parceria com o NEOJIBA foi fundamental para que o primeiro projeto de captação de recursos pela Lei Rouanet da OSBA fosse realizado com sucesso. Além disso, a OSBA se apresentou em concertos especiais contra remuneração, revertida em aquisição de instrumentos para a orquestra.

GESTÃO EM NÚMEROS

 

ORÇAMENTO ANUAL

Orçamento para gestão, programação artística, aquisição de equipamentos, impressão de material gráfico e deslocamentos

Até 2007 o orçamento da OSBA para programação e investimento era de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) anuais. Ricardo Castro conseguiu de imediato do Governo da Bahia o aumento desse valor, já no seu primeiro ano de gestão, para quase R$ 600.000,00 (seicentos mil reais) e nos anos seguinte para valores superiores.

 

Entre 2008 e 2009 foram captados R$ 362.000,00 (Trezentos e sessenta e dois mil reais) através da Lei Rouanet, tendo sido este o primeiro e único projeto de captação de recursos via leis de incentivo da OSBA.

APRESENTAÇÕES PÚBLICAS

*Concerto Didático para público infantil - Carnaval dos Animais de Camile Saint-Saens

Totalizando 173 apresentações públicas em 4 anos, incluindo 3 montagens de óperas, 133 apresentações aconteceram no Teatro Castro Alves. Entre Concertos Acadêmicos (concertos com a participação de integrantes do NEOJIBA), participações na Série TCA, Quintas Sinfônicas, Concertos Didáticos (especialmente montados para o público infanto-juvenil, como na foto acima), Concertos Especiais, Concertos OSBA Itinerante ou Concertos Sinfônicos, a maioria desses eventos foi realizada com a orquestra completa.

Apresentações públicas por ano

Quantidade de apresentações por tipo ou série

*Palestra concertante - concertos didáticos para todos os públicos tendo como tema as diversas famílias de instrumentos de orquestra

*Outdoor em Salvador anunciando o Concerto de Aniversário da OSBA com maestro e solistas internacionais

ARTISTAS CONVIDADOS  

Nas quatro temporadas de concertos foram convidados regentes e solistas de renome nacional e internacional, representando quatro continentes e diversas linguagens musicais. Com o objetivo de prestigiar e estimular os talentos locais, também foram convidados como regentes e solistas membros da OSBA, do NEOJIBA, além de músicos e grupos baianos.

Regentes: Bahia: 7; Brasil: 14; América Latina: 8; América do Norte: 2; Europa: 13

Legenda: * Músicos membros da OSBA.

 

*Série "Mozart nas Igrejas" 

Solistas: Bahia: 25; Brasil: 38; Europa: 26; Ásia: 5; África: 1

Legenda: * Músicos membros da OSBA. / ** Músicos integrantes do NEOJIBA.

REPERTÓRIOS E COMPOSITORES

*Exemplo de cartaz com a programação mensal da OSBA

Durante as quatro temporadas, a OSBA apresentou várias integrais de grandes compositores, realizou concertos de aniversário, estreias mundiais, primeiras execuções de obras históricas na Bahia, concertos de música de câmera para todos os naipes e repertório específico para a série Concertos Didáticos. Em destaque: Integral das Sinfonia e Concertos de Ludwig van Beethoven, integral das Sinfonias e Concertos de Johannes Brahms, integral de Sinfonias de Piotr I. Tchaikovsky, 7 das 9 Bachiannas Brasileiras de Villa-Lobos.

Entre brasileiros e estrangeiros, a proposta foi trazer compositores renomados como uma representação da maioria dos países com tradição na música de concerto, e de todos os períodos da história da música. Além disso, a gestão abriu espaço para a participação de compositores, novos talentos, que através de parceria com a UFBA, tiveram a oportunidade de ouvir suas composições interpretadas pela OSBA em primeira audição. Contemplando assim a proposta de intercâmbio artístico.

Lista de Compositores: Baianos: 08; Brasileiros: 23; Vivos ou nascidos a partir de 1920: 27; Compositores do século XX nascidos antes de 1920: 20; Compositores séc. XIX: 46; Compositores séc. XVIII: 10; Compositores do século XVII: 4; Compositores de século XVI: 3

Legenda: * Músicos membros da OSBA.

*Outdoor em Salvador anunciando o primeiro concerto da OSBA com Elomar

 

FINALIZAÇÃO DA GESTÃO

Na gestão proposta por Ricardo Castro, a OSBA ampliou seu papel como política pública estadual para a área da música de concerto, englobando não só a difusão e a formação de público, mas também a capacitação de novas gerações e o intercâmbio acadêmico e cultural. Seu principal objetivo foi construir uma base sólida de gestão por meio da profissionalização e renovação da orquestra e de seu público, que mostrou-se cada vez mais fiel e presente, preparando os caminhos para uma gestão publicizada e alinhada com os objetivos estratégicos do estado.

Em janeiro de 2011 Ricardo Castro concluiu seu mandato, solicitando que fosse retirado de seu contrato a meta da Gestão Artística da Orquestra Sinfônica da Bahia, para que pudesse se dedicar exclusivamente à direção geral do programa NEOJIBA, que desde 2009 tinha sido publicizado.

Uma edição deste relatório, complementada por reportagens da imprensa, foi entregue ao então secretário de cultura, Albino Rubim, juntamente com todos os documentos e avaliações meticulosamente elaborados por Ricardo Castro para dar início ao processo de publicização da OSBA. No decorrer da formulação da proposta de publicização, Castro contratou os serviços dos professores e músicos estatutários da OSBA Lucas Robatto e Heinz Schwebel, cuja colaboração se revelou essencial. Apesar da riqueza dos documentos compilados, que em teoria seriam suficientes para desencadear o processo, a efetiva publicização da OSBA não ocorreu imediatamente, apenas se concretizando em 2017, seis anos depois.